Outros tempos-IMAGENS ANTIGAS

Outros tempos

Vivo melhor em outros tempos. Gosto de percorrer imagens de outros tempos. Por acaso acho uma imagem de outros tempos na internet, e viajo. Acho depois outra, outra… e sigo tempo afora.
Resolvi então montar aqui um álbum de figurinhas, com pedaços da história de Vitória da Conquista, cidade  de nome redundante onde nasci, onde um grupo de forasteiros venceu e conquistou o território indígena a ferro e fogo.
E construiu seu casario na mesma direção do Rio Verruga, norte Sul, Bahia -Minas.
Neste blog encontrei reunidas a maioria das imagens antigas de conquista disponíveis na busca pelo google:  http://catadodeideias.blogspot.com.br/ Mas são poucas as informações, faltam datas, fotógrafo, mais referências.
Neste aqui há mais referências, mais informações: http://tabernadahistoriavc.com.br/category/conquista/
Rua Grande II – clique na foto para ampliar.
A mesma praça da foto anterior, vista  do plano, de cima pra baixo, com as mesmas três árvores, uma delas uma espécie de pinheiro, semelhante a uma araucária.  (Foto).
Rua Grande III
Olha aqui o pinheiro em detalhe e outra criança na imagem.
Rua Grande – IV
No detalhe um homem e três crianças.
Rua Grande V – A feira. Registro fotográfico mais antigo, de 1911
Sobre esta foto e a feira:
Feiras – Da Rua Grande para a Avenida Lauro de Freitas e Praça da Bandieira
Toda foto é antiga
conquista
O que é uma foto antiga?
Uma imagem que contém algo que não existe mais? Então toda foto é antiga. Talvez por isso fascinem.
Todas, até aquelas tiradas há alguns segundos, são memória. Todas são algo que não existe mais ou permanece de outra maneira.
Ao googlar centenas de imagens mais antigas da cidade de Vitória da Conquista escolho as que mais me tocam e reúno aqui. A maioria não tem data, cada uma fala por si. Encaro o desafio de fazer esta datação ao comparar umas com as outras, buscar mais informações nos sites onde estão publicadas.
Neste mosaico, tento separar por episódios que marcaram a vida da vila e da cidade. A demolição da primeira igreja matriz e a construção da atual, a mudança da feira da Rua Grande para a Lauro de Freitas e Praça da Bandeira, a construção do quarteirão central na Rua Grande, a inauguração da Rio-Bahia, a construção do mercadão e por aí vai.
Outras informações subentendidas nas imagens são as rotinas daquele momento, feito presente em nossas mãos. E no presente, sugerem  perguntas.
De onde vêm de que maneira chegam às casas a água, a comida, as roupas, a iluminação? Quais são as festas, como nascem as pessoas, de que morrem, o que comem? Tropeiros, vaqueiros, lavradores, empregados, comerciantes, coronéis, funcionários públicos, professores. O que fazem nesta tarde estampada numa foto?
A Peleja dos templos e a peleja do tempo
Primeira matriz. Foto: autor desconhecido http://bit.ly/SFzrPN
Conquista nasceu católica. Mas a partir de 1900 a rivalidade entre  católicos e protestantes resultou na construção de dois grandes templos cristãos, um de frente pro outro, no inicio e no final da Rua Grande, o núcleo urbano original da cidade. A rivalidade resultou no então maior templo batista da América do Sul. E os dois me impressionavam na minha infância. Alguém já disse que o ponto mais alto de uma cidade representa o poder da época. Torre da igreja na idade média, chaminé na revolução industrial e conglomerados financeiros no final do século XX.
A Conquista da minha infância era medieval na década de 1960. E eu me admirava com as torres das igrejas.
Esta primeira igrejinha, demolida em 1930, foi resultado, reza a lenda,  de uma promessa paga depois do massacre dos índios pelos conquistadores. Foi erguida no início dos anos 1800, em louvor a Nossa Senhora da Vitória, padroeira da cidade.
Interior da 1ª matriz – Foto: autor desconhecido http://bit.ly/O0pivb
Primeiro templo da  Igreja Batista – Foto: autor desconhecido. Google:http://bit.ly/QF43xl
Mas em 1900, um boiadeiro por nome Tertuliano, por acaso meu trisavô, eu soube disso recentemente, foi convertido por um pastor protestante em uma de suas viagens e, ao retornar, criou a igreja na sua fazenda.  A igreja cresceu, foi transferida para a cidade e resolveu encarar e falar de igual para igual com os católicos.
De 1920 a 1928, os crentes levantaram este templo da foto,  maior do que a igrejinha católica, demolida em 1930. Durante dois anos o templo compôs o cenário da Rua Grande com a primeira igreja católica. Mas entre 1930 e 1932 reinou sozinho no centro da cidade.
A construção não foi pacífica. veja relato:
” (…) Dentro da igreja os crentes eram apedrejados. Numa dessas ocorrências a esposa do pastor foi atingida por uma pedra, resultando no local da pedrada um tumor que lhe causou a morte mais tarde. Os inimigos formavam grupos que saíam à meia-noite com latas de piche e pincel, fazendo cruzes nas portas das casas dos crentes. Pichavam a cruz maior na porta da casa do pastor. Os grupos se armavam com armas de repetição para atacar os crentes na igreja (…) O padre recomendava aos seus adeptos a queimarem toda literatura evangélica que recebessem dos protestantes hereges. Assim foram queimados folhetos e bíblias em abundância. (…) Na década dos anos 20, a igreja começou a construir o seu 3º templo, na Praça 2 de Julho, hoje, Caixeiro Viajante, local do templo atual. O vigário da Freguesia tentou embargar os trabalhos da construção, conforme nota publicada no jornal “A Notícia”, 28 de agosto de 1921. (…) O jornal “A Notícia”, de 24 de outubro de 1928, publicou uma nota parabenizando os batistas pela inauguração do belo templo, e termina dizendo: “Não nos é possível conter a nossa censura aos católicos de Conquista, que deixam a igreja matriz prestes a cair, enquanto os de religião oposta edificam um belo templo, tendo gastado, até agora, 45 contos de réis”.  Por Genor Calixto Moreira. Veja íntegra:http://www.pibbvc.com.br/sobre-a-igreja/historia.html
Catedral católica, teve construção inciada em 1932, foi inaugurada em 1938 e concluída em 1944. http://tabernadahistoriavc.com.br/page/16/
Católicos diante do seu novo templo. Data aproximada 1938.
foto: autor desconhecido http://bit.ly/SKwYUk
Construção do templo da Primeira Igreja Batista, restabelece a aparente igualdade no tamanho dos dois templos cristãos da cidade. Lá no alto, a igreja católica.Foto: autor desconhecido http://bit.ly/PpkP0r
Templo protestante hoje. Foto: http://goo.gl/maps/0neK6
Catedral hoje: Foto: http://goo.gl/maps/K3e02 

E a peleja dos tempos… só sobraram fotografias.
Este sobrado nasceu em 1906 e  morreu em 1973. Teve uma existência mais curta do que a de uma vida humana. E levou 16 anos para ser concluído. Além de residência, foi também sede de jornal, de rádio, de centro espírita e de hotel. Tinha paredes de 1 metro de espessura, foi construído para durar muito.
Conquista é assim, não deixa pedra sobre pedra para contar a história. Foi assim com a primeira igreja matriz, demolida em 1930 para dar lugar à catedral atual, foi assim com os vizinhos Rua Grande acima, foi assim com praticamente todo o casario original da cidade, foi assim com prédios até mais recentes, como a sede do Banco Econômico, que virou um caixote colorido com uma imensa coroa da loja  Insinuante, foi assim com o Colégio Barão de Macaúbas, foi assim com as residências da década de 1960. Enfim, sobraram as fotografias.
O sobrado acima deu origem a este caixote do Banco do Brasil, em 1973, época em que a cidade era irrigada com o dinheiro do financiamento do café. Os ricos e os novos ricos se mudaram em direção ao lado leste da cidade. O núcleo original passou a ser usado mais como comércio e as antigas construções quando não são destruídas têm as fachadas cobertas com placas.

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