segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Uma luz no fim da Avenida João XXIII


A nova cara de uma região que ficou conhecida pelos constantes conflitos entre facções no controle do tráfico de drogas

TEÓFILO OTONI – A Avenida João XXIII é a principal via de acesso aos bairros Manoel Pimenta e Teófilo Rocha. Por lá, também passam os moradores da região Sul de Teófilo Otoni, como Vila Barreiros e Pindorama. A avenida é cercada, pelos morros do Eucalipto, Paraíba e Cemitério, onde facções criminosas disputam o controle pelo tráfego de drogas. A preocupação com a segurança pública nessa região sempre esteve presente nas reivindicações dos moradores. De acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), foram registrados 238 crimes violentos em Teófilo Otoni, de janeiro a outubro deste ano. Os números apresentados pelo órgão apontam que 30 pessoas perderam a vida nesse período, uma média de 3 assassinatos a cada mês.
“O numero de homicídios está dentro das perspectivas para Minas Gerais. Não desejamos isso, queremos que o número seja muito menor, mas infelizmente os fatos se deram por essa ótica”, reflete Alberto Tadeu de Oliveira, chefe da 15ª Delegacia Regional da Polícia Civil.
O delegado afirma que houve um aumento acentuado da violência em todo o Estado de Minas Gerais, e, dessa maneira, Teófilo Otoni seguiu a tendência. “Esse fenômeno não é exclusivo de Teófilo Otoni. E também aqui nós tivemos outro ingrediente que foi a greve da Policia Civil, que perdurou praticamente 6 meses no segundo semestre, que com certeza deve ter contribuído  para o acirramento desses números”.
Segundo o major Evandro, da Polícia Militar, se comparados com índices de 10 anos atrás, “os números estão em patamares inferiores”. O oficial lembra que o tráfico de drogas é o grande responsável por boa parte das ocorrências no município, porém, os crimes passionais não ficam fora dessa estatística. “Há uma setorização do tráfico em Teófilo Otoni, mas completamente mapeado e fiscalizado pela polícia. A polícia tem dado respostas positivas à sociedade”, argumenta.

Trégua entre as gangues
No entanto, apesar das estatísticas, quem mora na João XXIII tem experimentado um período de tranqüilidade, que há muito não se via, antes dos traficantes tomarem os morros. A guerra entre as facções é a grande responsável pelos homicídios que acontecem no local. Segundo a presidente do bairro Teófilo Rocha, Dulce Araújo, a constante troca de tiros que vinha tirando a paz dos moradores, diminuiu bastante. “Agora está mais tranqüilo devido a integração da polícia com a comunidade, a presença da polícia contribui muito”.
Para o vereador Lelé da Saúde, que foi criado no bairro, o retorno do posto policial contribuiu bastante no combate à criminalidade. “A região ganhou outra vida. A comunidade agora pode ir e vir”, comemora.
A rivalidade entre os traficantes dos morros Eucalipto e  Cemitério, já fez muitas mães chorarem seus filhos. Jovens que tiveram a vida interrompida por conta de algum tipo de envolvimento com as drogas. E é justamente aí, que entra o trabalho de investigação feito pela Polícia Civil, no sentido de desbaratar pontos de venda, e comercio de drogas nesses locais.  A área é constantemente monitorada com a intenção de atingir os líderes das facções. “Eu acho que o caminho é esse, mas depende de investigação. E nós gostaríamos que a população, como sempre o fez nos fornecesse informações sobre pontos de comercio e esquemas de chegada, e armazenamento de drogas. Essas informações ajudam alavancar ações policiais embasadas, e contribuem para a redução dos crimes violentos em Teófilo Otoni”, avalia o delegado Alberto Tadeu.

Comunidade em ação
Essa nova configuração que tem transformado a João XXIII faz parte da relação desenvolvida entre polícia e comunidade. “Tem uns 3 meses que  não tem incidente com arma de fogo por aqui. Muita gente voltou a freqüentar a quadra novamente, e tem policiamento constante na rua”, conta o vigilante José Cleber Ferreira, que mora há mais de 30 anos no bairro. Sobre o preconceito que ainda ronda quem vive naquela área, o vigilante dispara: “Para mudar essa visão que as pessoas têm com relação a nossa região teríamos que mudar o nome do bairro”, lamenta.
Preconceito que na opinião da Agente de Saúde, Marcilene Alves Pereira, muitas vezes é disseminado pela própria mídia. A Agente de Saúde mora no morro do Cemitério, e acompanha bem de perto os problemas sociais da comunidade. Para Marcilene, há um certo exagero da imprensa nas coberturas envolvendo a região. “A convivência com os que estão envolvidos com o tráfico é pacífica. A maioria dos meninos eu vi crescer, e a família já vem com um histórico de álcool e pobreza”. O papel da Igreja nessas áreas de risco é outro braço de apoio muito importante, na prevenção e recuperação, de jovens envolvidos com o crime. “A gente tem tirado homens do tráfico. Nosso bairro precisa de um projeto social, onde os jovens possam fazer cursos e praticar esporte. Se a igreja não fizer não tem quem faz”, avalia Marcilene, que faz parte do projeto evangelístico “Cântico de Ana”. O grupo visita famílias em situação de vulnerabilidade social, levando uma palavra de paz e, orienta aos envolvidos com vícios, a buscarem ajuda.
E pelo visto a luz no fim do túnel, ou a resposta para as mazelas que acometem as famílias em situação de risco está na mobilização, e no envolvimento de toda a comunidade para reverter o quadro da violência e prevenir novos incidentes. “Tem que ter mais união da comunidade entre si”, diz a cabelereira Mirivane Santos da Silva. Ela mantém um salão de beleza em frente à quadra esportiva da Av.João XXIII. Mirivane segue a mesma linha daqueles que acreditam que projetos sociais, esporte e lazer, são ferramentas importantíssimas na transformação do ser humano. Mirivane está desenvolvendo um projeto que visa levantar a autoestima dos idosos, intitulado Beleza do Idoso. “Vai ser uma coisa muito bacana, vou convidar outros amigos cabeleireiros para dar suporte nesse projeto. Eu vejo algo grande pra todos”, concluiu. 

 “O numero de homicídios (em T.O.) está dentro das perspectivas para Minas Gerais. Não desejamos isso, queremos que o número seja muito menor”, chefe da 15ª DRPC, Alberto Tadeu
 Aos poucos, a população volta a ocupar o espaço público da Avenida João XXIII
 Segundo os moradores os tiroteios diminuíram depois que a Polícia Militar instalou um quartel na avenida
 Subida principal para o Morro do Eucalipto
 Ao fundo o Morro do Cemitério
Então apelidada de ‘Faixa de Gaza’, devido aos constante confrontos entre traficantes do Eucalipto e Teófilo Rocha, a avenida vem, paulatinamente, voltando a ter a movimentação de pessoas


Nenhum comentário:

Postar um comentário